25 de set. de 2008

Órfãos e Desterrados...

"But I've always had this sense that there's something out there, waiting for me. Not here, in the World As It Is, but in the dreamlands. That there's a place for me in Faerie and I'll be there one day if I can just be good enough, or patient enough, or tenacious enough. Or...- It's a place where I'd be home, really home. I want it so badly sometimes that just thinking about it hurts."
-Jilly Coppercorn "The Onion Girl" -Charles de Lint


Existem tantos órfãos e desterrados das "outras terras" neste mundo...

E eu aqui me perguntando se há mesmo algum sentido nisso tudo. Se há mesmo um outro lugar diferente, que justifique e explique a minha inadequação a este mundo onde vivemos. Ou se seremos, eu e eles, apenas loucos desalinhados, sendo lentamente mastigados por um mundo que não conseguimos acompanhar...

É dificil separar a fuga da vontade justa de "voltar para casa", principalmente quando você já não sabe mais se tal "casa" existe...

Tudo que sei que é este aqui não é o meu lugar, este não sou eu, e isto não está certo.
Queria a sensação de mágica e sentido de volta.
Sinto como me perdesse mais e mais a cada dia...

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24 de set. de 2008

Nas ruínas, os cigarros

"Em meio às ruínas, ainda com os ouvidos zumbindo por conta do estrondo das explosões e do desabamento, Lucas acendeu um cigarro e pensou: "agora só falta limpar o terreno e começar a reconstruir". Fumou seu cigarro em meio aos restos e ao entulho, depois se levantou e foi ocupar-se de seu trabalho. "Alguns dias começam assim", dizia para si mesmo."

(o título deste fragmento é uma menção irônica ao conto "Nas Colinas, As Cidades")

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23 de set. de 2008

Despertar, por Mohsen Rasoulov



Mohsen Rasoulov era um fotógrafo, grafiteiro e artista iraniano, que morreu em um acidente de avião no Quirguistão no final do mês passado. Passeando por seu arquivo fototráfico (Mooshot), encontrei esta foto que me tocou por sua cândida intimidade e dignidade. A moça que aparece na foto chama-se Kiana Farhoudi, também é uma fotógrafa, e publica aqui os seus trabalhos.

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22 de set. de 2008

Notas de um moleque comilão...

O pequeno redcap Daniel escreve em seu diário:

"Nos últimos 2 dias ele passou por um processo que não sabe descrever bem, mas aceitou com relativa facilidade. O mundo se expandiu a partir da mescla com outro, de sonhos. Depois de ser perseguido por um cachorro sem rosto, começar a ver mais do que o simples “real”, ser salvo por outro cachorro e desmaiar, ele acordou no quarto de Áureo um saxofonista que mora em uma kitnet na 709N, interpretado pelo Pádua. Conheceu também Helena, uma garota de uns 15 anos que gosta tanto de Lain que se veste como ela.

Mais entre as pessoas que conheceu a que mais ajudou a entender o processo pelo qual ele estava passando foi Boa, um homem vindo da África que anda com um belo cajado. Daniel, talvez pela pouca idade, talvez pelo mundo de fantasias que criou e em que vivia para fugir da solidão, aceitou com alguma facilidade a mudança. Talvez porque sempre soubesse que aquele mundo existiu."


Leia o resto por lá...

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21 de set. de 2008

Desígnios da Imaginação.

A imaginação não obedece aos desígnios do mundo.
Quiçá, escuta os da alma. Mas no fim, segue apenas
aos próprios desígnios. A imaginação não obedece.
Ela, quando muito, pede passagem e vai.

Imaginários servem tanto à própria imaginação
quanto esta os serve.

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18 de set. de 2008

O Caderno de Saramago

José Saramago, aquele grande escritor que sempre respeitei mas de quem nunca gostei muito, fundou seu blogue nesta semana. O blogue está aqui, no site da Fundação Saramago.

O primeiro texto do blogue é uma antiga declaração de amor à sua Lisboa:
"Tempo houve em que Lisboa não tinha esse nome. Chamavam-lhe Olisipo quando os Romanos ali chegaram, Olissibona quando a tomaram os Mouros, que logo deram em dizer Aschbouna, talvez porque não soubessem pronunciar a bárbara palavra. Quando, em 1147, depois de um cerco de três meses, os Mouros foram vencidos, o nome da cidade não mudou logo na hora seguinte: se aquele que iria ser o nosso primeiro rei enviou à família uma carta a anunciar o feito, o mais provável é que tenha escrito ao alto Aschbouna, 24 de Outubro, ou Olissibona, mas nunca Lisboa. Quando começou Lisboa a ser Lisboa de facto e de direito? Pelo menos alguns anos tiveram de passar antes que o novo nome nascesse, tal como para que os conquistadores Galegos começassem a tornar-se Portugueses…

Estas miudezas históricas interessam pouco, dir-se-á, mas a mim interessar-me-ia muito, não só saber, mas ver, no exacto sentido da palavra, como veio mudando Lisboa desde aqueles dias. Se o cinema já existisse então, se os velhos cronistas fossem operadores de câmara, se as mil e uma mudanças por que Lisboa passou ao longo dos séculos tivessem sido registadas, poderíamos ver essa Lisboa de oito séculos crescer e mover-se como um ser vivo, como aquelas flores que a televisão nos mostra, abrindo-se em poucos segundos, desde o botão ainda fechado ao esplendor final das formas e das cores. Creio que amaria a essa Lisboa por cima de todas as cousas..."

Leia o resto do texto lá no blogue de Saramago.

E por falar em Saramago, o filme do Ensaio Sobre a Cegueira está estreando agora, né? Eu e Patinha queremos assistir o quanto antes.


(o que me faz lembrar que ainda não assistimos o filme de "Amor em Tempos de Cólera", adaptação do livro homônimo de García Marquez)

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17 de set. de 2008

A Casa do Rochedo Negro...

"[...]A norte da Floresta de Espiras, onde vivem as Banshee das Pedras e O Barghest, existe um grande rochedo que observa o Mar do Adormecimento. Na segunda ponta mais alta do rochedo, acessível apenas àqueles com asas, mágica ou persistência o bastante para lá chegar, vivem três mulheres. Muitos viajantes as chamam de "Bruxas do Rochedo Negro", mas não há nenhum motivo específico para dizer que sejam bruxas. Suas histórias, contam as lendas, se entrelaçam com a de DánLoth, e há quem diga que por algum motivo não podem deixar a casa. Talvez seja por isso que ainda vivam na Casa do Rochedo Negro. Talvez seja por isso, ou por medo da solidão do Rochedo, que ainda não tenham assassinado umas às outras nas noites escuras. [...]"

(ainda não achei uma imagem adequada a este pequeno fragmento. na sequência, procurarei por uma)

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outro fragmento.

"- Algumas pessoas se preocupam demais com os astros. Outras, não sabem sequer quando nasceram...
- Algumas não tem como saber...
- Como assim, Clurichaun?
- Algumas simplesmente não tem como saber.
- Está se referindo a alguém em específico? Tenho a impressão de conhecer este sorriso.
- Sim.
- ...
- Alguém bastante especial. Ela é...
- ... [risos]
- O que foi?
- Estava tentando ler a sua mente...
- Seu 'fidaputadesgraçado'...!
- Acalme-se. Eu desistí. Sua cabeça é uma bagunça. [risos]
- Então me devolve a garrafa, seu 'semideuzinho' de merda, porque seu silêncio me deixa de boca seca.
- É você que fala demais, Clurichaun. Tome seu whiskey."

L'th e O'Duireagh fazem uma amizade farpada que pode vir a salvar alguns mundos... Ou talvez não.

Enquanto isso, em algum outro lugar, alguém começa a tomar consciência de quem é e coloca em movimento uma reação em cadeia que surprenderá muito a ambos.

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L'th e os corvos...



É impressionante como por vezes uma imagem feita por outra pessoa -- alguém que você não sabe nem nunca vai saber ao certo quem é -- simplesmente captura uma imagem que estava dentro de você. Por mais que se tente resistir, dar uma de durão -- coisa que aprendemos a fazer neste mundo onde se encantar é feio e constrangedor -- não dá para negar. Não é pela técnica ou pela beleza, ou por qualquer motivo que possa ser colocado em palavras, mas esta imagem me encantou. Até tentei, mas não deu para não publicá-la por aqui...

(a imagem acima é de Werdandi, no deviantArt)

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fragmento.

"- ...Vocês não apenas perderam os caminhos, queimaram os mapas e viraram as costas para as terras do Sonho. Vocês também construíram cidades a toda a sua volta, com tantas luzes e cores que te fazem esquecer de que sequer existia algum lugar além delas! São suas fortalezas, suas muralhas, o artifício da inconsciência consensual que se tornou tão bem vinda. O que aconteceu com vocês? E, mais do que isso, por que é que você ainda me pede ajuda depois de tudo?
- Somos humanos. Quer dizer, a maioria de nós o é ao menos em parte, e todos o são ao menos um pouco. Você sabe como é isso, né?
- ...
- Temos um dom para descobrir e esquecer coisas.
- ...
- Trouxe um pouco de whiskey.
- ...!
- Que tal um copo de whiskey, uma boa conversa, quem sabe até contar algumas velhas histórias...
- Filho de uma puta! Me dá um gole, então.
- Certo. Agora vamos conversar sobre aquele caminho..."

O'Duiréagh conversa com L'Th em algum lugar à vista de todos, ainda assim invisível à maioria.

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16 de set. de 2008

Silêncio bem vindo...

Agora que contei algumas de suas histórias,
talvez eles me deixem em paz para traduzir
as histórias do mundo contadas pelos outros...

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Elvira não pode dormir.

eu detesto quando chega a noite.
fica silencioso demais e as pessoas tem que dormir.
eu detesto, detesto, detesto ter que dormir.

quando eu vou dormir, eu penso.
e quando eu penso, eu lembro,
e eles vem até mim...

minha barriga ronca.
não tem nada para comer aqui.
tento dormir.
mas eles vem até mim...

alguém escuta música
no andar de cima.
eu não queria estar sozinha aqui.
porque aí eles vem até mim...

alguém grita lá fora.
eu grito em silêncio aqui dentro.
meu pulso dói.
eles estão chegando...

vou chorar. não. não quero chorar.
estou com fome mas não vou comer.
quero ir embora
e eles vem até mim....

ele me bateu. ele me bateu muito.
e doeu mais dentro do que fora,
porque ele bateu tanto que parou de doer no corpo.
e ele matou meu filho.

mas a culpa foi minha. a culpa é minha.
sempre. sempre sou a culpada
todos colocam a culpa em mim.
então fui eu que matei meu filho.

mas eu não tinha escolha.
estava muito difícil. eu não aguentava mais
e não havia ninguém mais lá. só ele.
então foi ele que matou meu filho.

mas então ele descobriu
que eu estava vendo ele,
outro ele, todos eles...
eles mataram meu filho.

mas isso não importa mais.
eu matei, eles mataram,
ele está morto,
meu filho.

ele está vindo para me buscar.
todos eles estão.
querem me buscar pra me trancar de novo
querem me buscar pra me bater de novo
querem me buscar para morrer de novo
querem me buscar para me xingar de novo
querem me buscar para me matar...
não...
fui eu...
ele...
eles...
que
mataram.
eu
não
eu
matei
eu
não
sei...

vão embora!

vocês não mataram meu filho
vocês mataram a mim
e agora meu filho morto
vive minha vida
para vir aqui me buscar
e me levar embora
em seu lugar...

ele vai me matar.
mas eu já estou morta.
quero ir embora
e eles estão chegando...


estamos todos mortos.
mas eu queria tanto tanto tanto
poder
viver.


(imagem por Nessie1001 no dA)

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A menina triste, o menino, o cachorro e a chuva: Tídel.

a menina bonita se sentou no banco.
ela tinha um papel na mão e olhava para o nada.
vários passarinhos passam por mim. querem comida.
também tenho fome, mas esqueço.
está escurecendo, e a moça está sentada no banco.
dois meninos passam correndo e gritando. me assusto.
vou até debaixo daquela árvore. a grama está seca
e a moça continua sentada no banco.
seus pés se retorcem. o vento levas algumas folhas.
ela olha para o papel, e depois olha para os blocos.
não parece estar vendo nada. parece estar chorando
está escurecendo. está esfriando. cadê os pássaros?
a menina está chorando. ela é tão linda e tão triste.
sua pele é tão branca... e ela é tão magrinha,
que parece doente.
será que ela está doente?
droga! lá vem um cachorro! odeio cachorros!!
é melhor sair daqui...

lá está a menina. está andando.
tem um menino indo atrás dela.
não. não parece ser só um menino.
ele tem alguma coisa estranha nele.
ele não é como eles, mas não é como eu.
está ventando. e este vento é diferente.
tem borboletas no anoitecer muitas.
e o menino continua andando atrás dela.
vou chegar mais perto.

a menina está chorando, sentada debaixo do bloco.
o menino fala com ela. entendo, mas ignoro.
não é o que ele está falando que importa.
ele tem um cachorro enorme atrás dele,
mas eles não podem ver o cachorro.
eu posso. ele ainda não é real, mas eu posso.
e olhando de perto posso ver a coisa fria dentro da menina.
o que será aquilo? ela está doente mesmo?
a menina segura o papel, tentando escondê-lo do menino.
então o menino começa a desenhar.
será que ele não vê o cachorro?
será que ela não vê a coisa em sua barriga?
acho que vai chover. é uma chuva estranha.
o menino desenha árvores, e um cachorro.
ele desenha outro cachorro, então.
ele está desenhando o cachorro que está atrás dele.
e então eles olham para mim, mas não me vêem como sou.
e a menina não chora mais,
mas a coisa fria ainda se retorce dentro dela.

acho ela está morrendo. não sei porquê.

vai chover.
é melhor sair daqui antes que minhas penas fiquem molhadas.
estou com medo dessa chuva

vou embora com a menina e sua morte na cabeça.
mas sinto que também vou encontrar o menino
e o cachorro
por aí...


este é
um anoitecer
estranho.

tenho fome.


vôo para casa.


(imagem por VikaLC, no dA)

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do contra

nascí com o espírito da contrariedade.
minha vontade é sempre rebelde,
quer trabalhar na hora do descanso
e descansar na hora do trabalho.
quando me sento para escrever, calo.
e quando me concentro em trabalhar,
me dá vontade de contar histórias...

tudo que me resta fazer,
é tentar dançar a minha música
sem derrubar nada.

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8 de set. de 2008

Flores entre as pedras.

Como pode a poesia viver entre tantas pedras?
Como pode até mesmo a vida não sufocar
em meio às ruas planejadas para a aprisionar?

Não sei. Mas ainda há vida por aqui...

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Memória Caleidoscópica

Algumas pessoas tem memórias muito boas. Elas se lembram de seu passado com todos os detalhes e precisão. Algumas delas se lembram tão bem que não conseguem sair dele. Re-vivem de novo e de novo tudo a cada dia, pois a memória pode ser uma prisão.

Algumas pessoas tem memória caleidoscópica, onde os fatos se confundem e se misturam. Elas sabem que está tudo, ou quase tudo, lá em algum lugar de suas almas. Mas nem sempre sabem onde, ou o quê. Por vezes basta saber o que se viveu, e o que se sente a respeito. O resto é um caleidoscópio rodopiante de momentos.

Não há certo ou errado. Há apenas o universo da diferença.

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4 de set. de 2008

Tempus Fugit...

Já é quase quinta-feira e não tive tempo de me debruçar sobre as "coisas dos changelings" nesta semana (e nem muito menos de escrever mais algumas coisas sobre a história por aqui). Mas a vida é assim. Por vezes a gente passa o dia correndo atrás do corcel antes de conseguir montá-lo, exausto, ou cair de exaustão tentando.

Como corre este cavalinho da vida...

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1 de set. de 2008

Mestre Salustiano

Ontem um dos maiores imaginários e festeiros do Brasil foi-se embora tocar rabeca pras estrelas. Eu ví o pequeno-grande-homem tocar, e eu sei que as estrelas vão gostar.


(foto do Mestre Salú por Ana Cullen, no Overmundo)

Segue em paz, Mestre Salustiano.

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