30 de out. de 2007

Encontro imaginário com Rubem Fonseca.

Até a sua careca era enrugada por baixo do boné azul. Parecia ter envelhecido como uma árvore, imóvel mas ainda assim fluido. Era como uma montanha, mas era menor do que eu pensava, e se movia. Parecia meio assustado. Eu ainda segurava seu braço. Ao fundo o mar ia e vinha, as pessoas iam e vinham. O sol estava quente em Ipanema então, e não ventava. "O que você quer de mim?", ele perguntou. "Eu não quero nada que você possa me dar". Ficamos perplexos. Ele me olhava sem entender se eu representava perigo ou se apenas o adorava. Eu estava encantado, um pouco assustado até, em vê-lo. Ficamos assim nos olhando. Minha mão ainda segurando frouxamente seu braço, sem dizer nada. Não havia o que dizer. Ele era o senhor de todas as palavras, aquelas que eu apenas perseguia. Então eu podia apenas olhar para ele. Meus olhos sempre foram meus. Ele não sorriu para mim, mas acho que entendeu. "Eu só queria olhar para você, para que você se tornasse humano por trás das palavras". Larguei seu braço. Ele parecia aliviado, mas não foi embora. Olhou com piedade para mim. "Tenho que ir à padaria", ele disse. "Boa sorte", respondi. Fiquei olhando enquanto ele ia embora. Nunca imaginei que encontraria Rubem Fonseca. De fato, eu só imaginei isso tudo. "A única realidade é a nossa imaginação"...

(Fragmento escrito depois de ler "O Inimigo", de Rubem Fonseca, em seu livro "Os Prisioneiros")

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19 de out. de 2007

Um.



Ontem, antes de dormir,
eu matei a charada...

É tudo Um.

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It's raining again...



Eu adoro estes dias chuvosos.

A vida parece recomeçar
quando a seca vai embora
e a chuva volta a abençoar
a minha cidade...

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18 de out. de 2007

Fazendo as coisas do meu jeito...

Sou um péssimo imitador dos modos alheios. Quando tento fazer as coisas do jeito que funciona para os outros, geralmente não dá certo ou o resultado é no máximo medíocre. Não adianta.

Embora já tenha descoberto isso dezenas de vezes, e aparentemente esquecido disso nos momentos feitos mais impróprios, tenho fé que um dia eu aprendo que...
o segredo do sucesso é saber fazer bem as coisas do meu jeito.

Somos quem somos, afinal.
Só nos resta descobrir quem somos
e encontrar nosso jeito de fazer as coisas. :)

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noventa graus à esquerda.

Eu achava que podia fazê-lo
mas não consegui.
Mas sempre se pode fazer
outra coisa...

Então, eu parei de sofrer
e fui dormir.


(ao menos vai tudo bem o bastante neste universo)

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17 de out. de 2007

En silence...

Como sempre acontece quando entro no DeviantART de olhos abertos, acabei descobrindo mais uma grande artista. Mélanie Delon, Eskarinacircus, cria imagens fantásticas, tocantes por seu realismo e encantadoras por sua força. A imagem abaixo simplesmente me transfixou...



Sem palavras. Apenas silêncio... e um olhar.

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sonhos de água e céu

Em dias quentes como este, quando eu era criança, eu sonhava em poder virar uma criatura da água e viver para sempre (o para sempre das crianças dura até quando a gente quer) dentro de piscinas ou lagos encantados. Queria descobrir mundos debaixo da água e não sentir calor nunca mais, e voar dentro da água para onde quisesse.

Ela queria nadar no céu. Sabia que o céu e o mar são a mesma coisa, e se deitam juntos no horizonte da praia. Ela, com sua sabedoria de criança, sabia que se pode nadar no céu e no mar, contanto que se saiba como. Ela sabe muito sobre o mar.

A gente só precisa saber como sonhar com a água e com o céu...




p.s. eu realmente me apaixonei pelas aquarelas de Kajsa Flinkfeldt, Flingling.

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3 de out. de 2007

All we need...



... is just a little tenderness.

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fragmentos e cacos em meio ao silêncio.

- O mundo não é justo, garoto. Nestes tempos, a beleza é cada vez mais fugaz e geralmente só existe onde é cultivada e cuidada. Fora disso, ela é massacrada por estes tempos rápido demais...
- Eu sei. Isso é muito triste. Mas o que eu faço, então?
- Seja justo, ou tente, e cultive a beleza. O que mais você poderia fazer?
- Mas isso quer dizer que eu vou sofrer...
- Sim. Mas nem mesmo a morte costuma ser indolor. O que você espera da vida então, garoto?
- Eu espero ser feliz.
- Então faça o que puder para ser feliz, e não me torra.

-=-

...Caminharam pela rua em meio aos curiosos até chegar à esquina. Mesmo sabendo o que encontrariam, se surpreenderam com a terrível exuberância do incêndio que consuma o prédio. Havia gente sendo queimada viva lá dentro, eles podiam ver e ouvir isso. Ele teve vontade de chorar, mas mesmo aquilo não parecia fazer sentido naquele momento. Ela se virou para ele, tirando do rosto as mechas ruivas carregadas pelo bafo ígneo do incêndio e perguntou "será que tudo isso foi por conta de um cigarro?". Ele respondeu, com os olhos fitos em uma mulher que caía para a morte, que "o problema não era o cigarro. o problema era não saber a hora de parar e apagá-lo.". Ficaram lá olhando a torre que ardia e desmoronava. Não sabiam mais o que dizer.

-=-

O corpo magro de Lúcia estava ainda mais magro, quase esquelético, e encantava na mesma medida que chocava Pedro enquanto ele a fitava nua sobre a cama. Não conseguia se lembrar como havia chegado até alí. Perguntava-se onde estaria Marina, mas tinha certeza de que ela havia ido embora. Pensou em ir atrás dela, mas não sabia onde procurá-la. E então se lembrou de coisas que preferia não lembrar. Coisas que preferia que nunca tivessem acontecido. Fitou a porta. Voltou a fitar a cama. Não sabia para onde ir. Tudo é dor, e toda a dor vem do desejo de não sentirmos dor...

Foi então que eles começaram a destruir a casa. Pedro podia ouvir as paredes caindo e os vidros quebrando lá fora do quarto. Lá dentro, contudo, a devastação ainda era grande demais para que ele pudesse se preocupar com o resto do mundo.

-=-

"Sua sombra estava lá, rajada de gotas de chuva. Havia luz também. A luz agradável dos dias nublados que agora não machucava mais seus olhos."

-=-

...

silêncio.

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2 de out. de 2007

Retorno.

Abriu a porta e saiu, ofuscado pela luminosidade. Sentia um vazio nas entranhas. Preferia acreditar que era fome. Acendeu um cigarro e demorou vários passos para se aperceber do dia nublado. Foi despertado de seus pensamentos por uma pequena gota de chuva que acariciou sua mão. Estacou em meio ao estacionamento, como quem desperta de um transe. Olhou para os carros, para os prédios, para o chão salpicado de gotas. Sua sombra estava lá, rajada de gotas de chuva. Havia luz também. A luz agradável dos dias nublados que agora não machucava mais seus olhos. Abriu os braços e jogou a cabeça para trás, caminhando pé ante pé e sentindo cada gota arrancar o pó de seu corpo e de sua alma. Fechou os olhos e se sentiu uno com a chuva. Tudo fluía. Tudo parecia estar de volta em seu lugar e seu movimento.

Foi assim que ele retornou, mesmo que no fundo sempre tivesse estado alí. Ele apenas havia se perdido. Como uma semente perdida, a chuva o despertou. Como uma semente desperta, agora ele queria estar vivo. Andou pela chuva sorrindo, terminou seu cigarro e depois voltou a fitar o céu. Deu boas vindas a si mesmo e à chuva, e então seguiu seu caminho.

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Quando veio a chuva...

Quando a chuva finalmente caiu sobre o bar na Cidade Seca, as pessoas nas mesas começaram a aplaudir. Foi bonito.

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