Encontro imaginário com Rubem Fonseca.
Até a sua careca era enrugada por baixo do boné azul. Parecia ter envelhecido como uma árvore, imóvel mas ainda assim fluido. Era como uma montanha, mas era menor do que eu pensava, e se movia. Parecia meio assustado. Eu ainda segurava seu braço. Ao fundo o mar ia e vinha, as pessoas iam e vinham. O sol estava quente em Ipanema então, e não ventava. "O que você quer de mim?", ele perguntou. "Eu não quero nada que você possa me dar". Ficamos perplexos. Ele me olhava sem entender se eu representava perigo ou se apenas o adorava. Eu estava encantado, um pouco assustado até, em vê-lo. Ficamos assim nos olhando. Minha mão ainda segurando frouxamente seu braço, sem dizer nada. Não havia o que dizer. Ele era o senhor de todas as palavras, aquelas que eu apenas perseguia. Então eu podia apenas olhar para ele. Meus olhos sempre foram meus. Ele não sorriu para mim, mas acho que entendeu. "Eu só queria olhar para você, para que você se tornasse humano por trás das palavras". Larguei seu braço. Ele parecia aliviado, mas não foi embora. Olhou com piedade para mim. "Tenho que ir à padaria", ele disse. "Boa sorte", respondi. Fiquei olhando enquanto ele ia embora. Nunca imaginei que encontraria Rubem Fonseca. De fato, eu só imaginei isso tudo. "A única realidade é a nossa imaginação"...
(Fragmento escrito depois de ler "O Inimigo", de Rubem Fonseca, em seu livro "Os Prisioneiros")
(Fragmento escrito depois de ler "O Inimigo", de Rubem Fonseca, em seu livro "Os Prisioneiros")
Marcadores: escritos, fragmentos, Rio de Janeiro, rubem fonseca
1 Comments:
Ei, amigo!
Posso pegar tua mão para tentar ver contigo onde vai dar essa linha, talvez num horizonte belo, ou num alegre porto, ou, quem sabe num rio em janeiro, quando as pipas, pandorgas e quetais vão à bahia.
Boa tua imagem de ação imaginada e palavreada.
Abraço forte, guri.
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