fragmentos e cacos em meio ao silêncio.
- O mundo não é justo, garoto. Nestes tempos, a beleza é cada vez mais fugaz e geralmente só existe onde é cultivada e cuidada. Fora disso, ela é massacrada por estes tempos rápido demais...
- Eu sei. Isso é muito triste. Mas o que eu faço, então?
- Seja justo, ou tente, e cultive a beleza. O que mais você poderia fazer?
- Mas isso quer dizer que eu vou sofrer...
- Sim. Mas nem mesmo a morte costuma ser indolor. O que você espera da vida então, garoto?
- Eu espero ser feliz.
- Então faça o que puder para ser feliz, e não me torra.
-=-
...Caminharam pela rua em meio aos curiosos até chegar à esquina. Mesmo sabendo o que encontrariam, se surpreenderam com a terrível exuberância do incêndio que consuma o prédio. Havia gente sendo queimada viva lá dentro, eles podiam ver e ouvir isso. Ele teve vontade de chorar, mas mesmo aquilo não parecia fazer sentido naquele momento. Ela se virou para ele, tirando do rosto as mechas ruivas carregadas pelo bafo ígneo do incêndio e perguntou "será que tudo isso foi por conta de um cigarro?". Ele respondeu, com os olhos fitos em uma mulher que caía para a morte, que "o problema não era o cigarro. o problema era não saber a hora de parar e apagá-lo.". Ficaram lá olhando a torre que ardia e desmoronava. Não sabiam mais o que dizer.
-=-
O corpo magro de Lúcia estava ainda mais magro, quase esquelético, e encantava na mesma medida que chocava Pedro enquanto ele a fitava nua sobre a cama. Não conseguia se lembrar como havia chegado até alí. Perguntava-se onde estaria Marina, mas tinha certeza de que ela havia ido embora. Pensou em ir atrás dela, mas não sabia onde procurá-la. E então se lembrou de coisas que preferia não lembrar. Coisas que preferia que nunca tivessem acontecido. Fitou a porta. Voltou a fitar a cama. Não sabia para onde ir. Tudo é dor, e toda a dor vem do desejo de não sentirmos dor...
Foi então que eles começaram a destruir a casa. Pedro podia ouvir as paredes caindo e os vidros quebrando lá fora do quarto. Lá dentro, contudo, a devastação ainda era grande demais para que ele pudesse se preocupar com o resto do mundo.
-=-
"Sua sombra estava lá, rajada de gotas de chuva. Havia luz também. A luz agradável dos dias nublados que agora não machucava mais seus olhos."
-=-
...
silêncio.
- Eu sei. Isso é muito triste. Mas o que eu faço, então?
- Seja justo, ou tente, e cultive a beleza. O que mais você poderia fazer?
- Mas isso quer dizer que eu vou sofrer...
- Sim. Mas nem mesmo a morte costuma ser indolor. O que você espera da vida então, garoto?
- Eu espero ser feliz.
- Então faça o que puder para ser feliz, e não me torra.
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...Caminharam pela rua em meio aos curiosos até chegar à esquina. Mesmo sabendo o que encontrariam, se surpreenderam com a terrível exuberância do incêndio que consuma o prédio. Havia gente sendo queimada viva lá dentro, eles podiam ver e ouvir isso. Ele teve vontade de chorar, mas mesmo aquilo não parecia fazer sentido naquele momento. Ela se virou para ele, tirando do rosto as mechas ruivas carregadas pelo bafo ígneo do incêndio e perguntou "será que tudo isso foi por conta de um cigarro?". Ele respondeu, com os olhos fitos em uma mulher que caía para a morte, que "o problema não era o cigarro. o problema era não saber a hora de parar e apagá-lo.". Ficaram lá olhando a torre que ardia e desmoronava. Não sabiam mais o que dizer.
-=-
O corpo magro de Lúcia estava ainda mais magro, quase esquelético, e encantava na mesma medida que chocava Pedro enquanto ele a fitava nua sobre a cama. Não conseguia se lembrar como havia chegado até alí. Perguntava-se onde estaria Marina, mas tinha certeza de que ela havia ido embora. Pensou em ir atrás dela, mas não sabia onde procurá-la. E então se lembrou de coisas que preferia não lembrar. Coisas que preferia que nunca tivessem acontecido. Fitou a porta. Voltou a fitar a cama. Não sabia para onde ir. Tudo é dor, e toda a dor vem do desejo de não sentirmos dor...
Foi então que eles começaram a destruir a casa. Pedro podia ouvir as paredes caindo e os vidros quebrando lá fora do quarto. Lá dentro, contudo, a devastação ainda era grande demais para que ele pudesse se preocupar com o resto do mundo.
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"Sua sombra estava lá, rajada de gotas de chuva. Havia luz também. A luz agradável dos dias nublados que agora não machucava mais seus olhos."
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...
silêncio.
Marcadores: escritos, fragmentos, silêncio
4 Comments:
"(...)Mas existiam os outros. As outras realidades. A dor também rondava os mundos em silênciosas mortalhas vestindo o segredo da felicidade (...)"
Ainda Sobre cigarros, incêndios, dor, morte e silencio.
Laís mostrou a fotografia em que ele, de olhos fechados, acendia um cigarro.
Ciça admirou e disse:
“... Não fosse esse cigarro aí...”.
Laís retrucou:
“Qual o problema com este cigarro aí?”.
Ciça respondeu séria:
“Ah... Cigarro não faz bem...”.
Laís respondeu sorrindo:
“O que não faz bem é a repressão”.
{...}
Depois que leu a notícia sobre o incêndio letal que um único cigarro causou, ela chorou.
Deu um último trago em seu cigarro, enquanto a sua ode se consumia em chama amarelada.
E quando das suas palavras, restavam apenas as cinzas a se desintegrarem negras espalhando-se poeirentas pela sala, ela refletiu:
“Alguns vícios (nos) queimam”.
{...}
“Mamãe, morrer dói?”.
“Depende do seu ponto de vista. Agora cuidado com essas labaredas, elas podem nos causar dores bem mais que físicas.”.
Silencio...?
"(...) E da sua janela, após o grito instituíndo-se como silencio, Laís não sabia em qual lado da outra janela, ela se encontrava, se fora, partindo(se) em cacos junto ao desmoronamento do resto da casa, ou se dentro, contribuíndo para a desordem do quarto.
Talvez não quisesse encontrar a resposta (...)"
"(...)Ele existia dentro daquele sentimento inexato para aqueles dias de cigarros incendiários, desmoronamentos e solidão claustrofóbica em cacos de caos e de verdades, como coroas de espinhos circundando o silêncio (...)".
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