... as he were of faierie
"...His croket kembd and thereon set
A Nouche with a chapelet,
Or elles one of grene leves
Which late com out of the greves,
Al for he sholde seme freissh;
And thus he loketh on the fleissh,
Riht as an hauk which hath a sihte
Upon the foul ther he schal lihte,
And as he were of faierie
He scheweth him tofore here yhe..."
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Pequenas (ou enormes) confusões como estas fizeram com que a palavra Faërie fosse quase completamente eclipsada na língua inglesa pela sua derivada Fairy, sendo inclusive confundida muitas vezes com um sinônimo ou grafia alternativa desta. Desta terrível forma, os seres encantados foram simbolicamente desprovidos de sua origem (e portanto de sua essência, e então de seu poder e magia) e confinados em um sem-lugar obscuro do mundo (ou pior, apenas do imaginário) do Homem. Até mesmo na wikipedia este engano é cometido, o que não chega a ser uma surpresa, infelizmente.
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Na língua portuguesa, a questão é ainda mais séria. Não há, a princípio, uma palavra em nossa língua para designar a Terra Encantada. Eu disse a princípio, pois a palavra existe, mas vocês não acreditariam se eu vos dissesse qual é (e poucos sequer se lembram que ela tem este significado, embora nós a falemos com muita frequência). De qualquer forma, até mesmo o Fairy do idioma inglês recebe uma ambígua e insuficiente tradução como Fada -- uma palavra que mistura em sua construção uma série de referências que não a equivalem exatamente ao Fairy inglês e muito menos ao ylfe ou ao daóine-sidhe do velho mundo. Se os Fairy desterrados da língua inglesa tem ao menos o direito a ter dois sexos, as fadas são condenadas a ter apenas o sexo feminino e são ainda mais gravemente limitadas em seu escopo de significados e formas. Já a palavra para designar as "fadas do sexo masculino" é ainda mais estranha e inadequada (sim... estou criticando aquele que é meu nome, mas apenas como tradução correta para o Fairy masculino). Vejo isso com um certo assombro, pois as terras ibéricas eram ricas em... errr... fadas e duendes no seu imaginário, simbolismo e mitologia.
A língua e o pensar, o imaginar, andam juntos. Temos, portanto, que tentar recuperar não apenas as palavras certas para falar do Reino Encantando e do povo sutil e mágico que vive e vem de lá, como também reencontrar seus significados. Os filhos de Faërie, a Terra Encantada, agradecem.
Quando abrimos mão das palavras encantadas,
perdemos também os poderes da Subcriação e da Imaginação.
Pensem nisso.
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p.s. para aqueles que ainda não sabem, algum dia conto qual é, segundo meus estudos, a única palavra sobrevivente na língua portuguesa moderna para designar o Reino Encantado. (curiosos? procurem em Nansen, In Northern Mists, ii, 223-30. dica de rodapé do próprio Tolkien).
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