22 de mar. de 2007

Colocando os pensamentos no lugar...

"A cabeça está em greve, reivindicando espaço:
o campo energético mínimo de cada pensamento.
Cansando-se de ser um ônibus lotado,
revoga o dever de assentar os primeiros face ao direito
de assentar os últimos e os do meio.

Uma vez que apenas os pensamentos convenientes
estejam devidamente acomodados,
(fechadas as portas àqueles que não são simpáticos)
roga, ainda, o exercício da legítima defesa:
jogar janelas à fora os pensamentos vãos.

Um corredor vazio é também coisa que anseia.
Tendo, os pensamentos à beira de explosão,
comodidade para ir ao banheiro.
Tendo, os pensamentos transviados,
caminho livre atá o vestiário,
para trocarem roupa, nome, seios,
sexo, time, país, emprego, religião.(...)"
(trecho de Greve Geral, poesia da adorável Jubalize, moça que conheci acendendo um cigarro sentada à janela e concluindo que o tesão é a coisa mais importante da vida, enquanto gatas de almofada se refestelavam em suas almofadas, querendo mais atenção do que tudo mais...)


A minha cabeça também anda balançando perigosamente por aí, como um ônibus cheio demais. Os pensamentos por vezes caem pela janela e são deixados para trás, esquecidos em meio à balbúrdia de seus semelhantes. Na cabeça cheia demais, todos os pensamentos são pardos. Falta cor, porquê falta luz e ar, e todos sofrem de uma suave anóxia -- eu e meus pensamentos -- quando a cabeça está cheia demais. Mal consigo pensar. Mal consigo sorrir. Mal consigo ser, quando minha cabeça está tão lotada de pensamentos gritando por atenção que mal consigo decidir o que faço primeiro. Isso não é coisa que se faça consigo mesmo.

FORA VOCÊS TODOS, PENSAMENTOS!

Pronto... agora voltem a entrar, um por um, em fila indiana. Vou escolher quais de vocês são bem vindos e quais devem procurar outro caminho.

Pensamentos sobre histórias encantadas -- entrem por favor. Sentem-se à janela. Podem acender um cigarro, mas tentem não incomodar os pensamentos sérios das cadeiras mais de trás.

Pensamentos sobre trabalho, podem entrar, mas não fiquem no caminho dos outros. Há espaço para todos, e se alguém estiver atrapalhando a viagem dos outros passageiros, terá que descer. Sim, isso também se aplica a vocês. Pensamentos como vocês eu posso encontrar a qualquer momento, em qualquer ponto de ônibus desta vida. Vocês são muito banais!

Pensamentos sobre a saudade que sinto de minha Brasília quadradinha, seca e cheia de belezas subterrâneas podem entrar. Podem também entrar todas as outras saudades, mas por favor, vão para o fundo do ônibus. Sentem-se lá no fundo, por favor. Não quero vê-los o tempo todo. Basta que estejam aí.

Pensamentos sobre meu ativismo sejam bem vindos. Sentem-se à esquerda e tentem não chamar a atenção do motorista a todo momento. Falem somente o essencial e serão atendidos. Incomodem-me e terão que descer. Não achem que são mais valiosos do que realmente são.

Pensamentos tolos, sejam bem vindos, mas também não atrapalhem a viagem dos demais. Não sentem-se atrás nem ao lado dos pensamentos encantados, e nem dos pensamentos de trabalho. É, vocês podem sentar-se lá atrás, junto com as saudades, se conseguirem se entender bem. Talvez façam uma bonita amizade.

Pensamentos raivosos de mágoas antigas familiares, acho que termina aqui a viagem de vocês. Não. Não os quero mais. Vão embora.

Pensamentos desnecessários e preocupações, eu me lembrava de ter dito em outra ocasião que não os queria mais. São inúteis! Vão fazer algo de útil desta vida, como virar soluções. Se algum de vocês resolver virar uma solução em vez de apenas um problema, serão bem vindos no próximo ponto...

Pensamentos sobre o futuro podem viajar de pé, já que são tão apresados. Mas não deixem suas bagagens pesadas baterem na cabeça dos outros pensamentos.

Pensamentos de solidão, eu os deixo ficar só desta vez, mas vão ter que se socializar com os outros.

E quem são vocês? Que outros pensamentos são estes que estão na fila? Não... não são bem vindos, nem os conheço! Vão embora! Então era isso -- meu problema era, pra variar, com os pensamentos penetras que entram sem serem apercebidos quando se tem a cabeça como um ônibus lotado e desorganizado.

Estamos prontos agora?
Motorista, siga a viagem. E que seja uma boa viagem agora.


Vou andar na praia para ver algo belo e não racional. Já consigo pensar um bocado quando não tenho que pensar em nada...

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27 de fev. de 2007

A loucura nossa de cada dia.

Mais um post que bem podia ter ido para o Alriada, se este não estivesse marcado para reformas.

Um estudo da OMS indica que aproximadamente um em cada seis habitantes do planeta sofre de algum tipo de distúrbio neurológico. Por outro lado, o Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres afirma que um em cada três britânicos sofre de "paranóia ou desconfiança excessiva". Será que agora começa a fazer sentido quando eu falo que esta civilização está deixando as pessoas doentes da alma?

Ao menos os holandeses estão sacando que ouvir vozes na cabeça dando conselhos e fazendo observações não é nada de fora do normal. Mas, o que dizer de um mundo em que dão ketamina para as pessoas e depois se surpreendem que elas tenham sacudido a depressão?


Em uma civilização doente e tola como esta, ainda acham estranho quando digo que prefiro conversar com fadas?

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