27 de fev. de 2007

A loucura nossa de cada dia.

Mais um post que bem podia ter ido para o Alriada, se este não estivesse marcado para reformas.

Um estudo da OMS indica que aproximadamente um em cada seis habitantes do planeta sofre de algum tipo de distúrbio neurológico. Por outro lado, o Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres afirma que um em cada três britânicos sofre de "paranóia ou desconfiança excessiva". Será que agora começa a fazer sentido quando eu falo que esta civilização está deixando as pessoas doentes da alma?

Ao menos os holandeses estão sacando que ouvir vozes na cabeça dando conselhos e fazendo observações não é nada de fora do normal. Mas, o que dizer de um mundo em que dão ketamina para as pessoas e depois se surpreendem que elas tenham sacudido a depressão?


Em uma civilização doente e tola como esta, ainda acham estranho quando digo que prefiro conversar com fadas?

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4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

uma coisa é que a informação está passando por uma revolução, e está se reproduzindo como nunca. o problema é que ninguém está pensando numa maneira prática de consumi-la.

e esse negócio de remédio e doença em todos os lugares, afetando todo mundo? de quatro anos pra cá, o que eu conheci de garotas 'bipolares'... estamos nos tornando uma nação de simões bacamartes?

2/28/2007 12:24:00 PM  
Blogger Daniel Duende said...

A informação, assim como qualquer outra substância mais ou menos sólida ou flutuante no ar, também pode adoecer o corpo e o espírito. Não é de quantidades que se faz o bem estar, mas de qualidades e equilíbrios. Estamos todos enlouquecendo neste mundo de quantidades e sem sutilezas, sem delicadezas, obra humana de desumanização. Enquanto tentamos ser deuses com nosso engenho e conhecimento, nos tornamos menos do que nós mesmos em nossa ausência de visão e sabedoria.

Sim. Estamos nos enlouquecendo e -- o mais absurdo -- ainda estamos surpresos ao constatar isso, como se não fosse algo normal. Enlouquecer é normal, quando a normalidade é massacrante e inumana, cartesiana...

Para os males da alma não há um só remédio, mas mesmo assim busca-se no corpo -- o mesmo corpo que pepudiamos e perseguimos assombrados e temerosos -- a resposta para as perguntas que nem sequer sabemos formular. Estaremos assim tão doentes? Qual é o remédio, doutor? Não há remédio para a dor de saber que não há remédio. Tomamos então nossos placebos, morremos aos poucos com medo da morte e fazemos tudo -- tudo -- para evitar que a vida seja simplesmente como é. Toda a doença que inventamos, toda a doença que cultivamos, é uma vantagem paranósica inconsciente para nos privar de nossa própria condição humana.

E como se nos contorcêssemos por eras e então, surpresos, constatássemos que nossos ossos começam a se partir. Estamos adoecendo sim, pois nem sequer procuramos curas. Procuramos doenças, isto sim, pois elas são mais aceitáveis do que a busca da saúde que não sabemos ter. Procuramos doenças e remédios, e assim nos sentimos bem. Para nossas boas e familiares doenças, há remédio, e podemos fingir que está tudo bem.

Mas é para a nossa humanidade -- aquela que não podemos ter -- que não há remédio. É por isso que preferimos morrer, mesmo tendo medo da morte.
Não sabemos viver.


Abraços do Verde.

2/28/2007 03:37:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Não somos máquinas e o cérebro não aguenta acompanhar tanta "informação", assim como nosso espírito não pode lidar com tanta "competição".

Lembram do Munch pintando o horror das pessoas logo no início da Revolução Industrial? Olhem aquelas pessoas cadavéricas, infelizes e distorcidas. Evoluimos tanto e o que somos? Metade do mundo morre de fome enquanto a outra metade em decorrência de problemas da obesidade.

Essa frase final do Duende me lembra o grande Drummond:

" Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação".

3/01/2007 10:11:00 AM  
Blogger Daniel Duende said...

Olá Tarsis,

foste feliz em suas infelizes lembranças. Os contrastes entre os famintos e os obesos, companheiros de misérias semelhantes e tão distintas, lembram-me daqueles que enlouquecem na absoluta miséria do lado de fora da janela do carro dos afortunados que enlouquecem de tédio.

Este é um mundo que adoece em seus desequilíbrios. Não é à estabilidade que devemos almejar. É, pelo contrário, ao fluxo. Mas não nos deixamos fluir. Não nos deixam fluir. Nem sabemos mais para onde apontam as marés, tão perdidos estamos em nossas manias de fazer ser o que não é, e o que não somos.

Como disse, antes preferimos morrer das doenças que conhecemos do que reconhecer os males que causamos a nós mesmos em nossa ignorância de nós mesmos...

Vivemos achando feios os espelhos, em nosso narcisismo esquizóide. Não queremos ver. Não queremos nem saber. Não queremos viver senão do jeito que achamos de deve ser.

Esta é uma civilização estranha.

3/01/2007 10:42:00 AM  

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