26 de abr. de 2007

Brutti, Sporchi e Cativi

Simples assim...
O Brutti, Sporchi e Cativi continua ducaralho.

O segredo de falar e escrever bem é falar o que precisa ser dito, e somente o necessário. :)

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22 de mar. de 2007

Seaside, de Ernesto Diniz

Saindo um pouco do Mundo Encantado para admirar a prosa burlesca, adorável e quase ludicamente sacana, de Ernesto Diniz.
"Eu queria acreditar que pegar um ônibus até a faculdade me levaria a um mar de possibilidades, mas não é bem assim que me sinto num calor beirando os quarenta graus; talvez alguém dentro daquele mesmo ônibus, tão caloroso e nada positivo sentisse diferente; talvez essa pessoa fosse para o aeroporto: aí então haveria um mar de possibilidades; mas eu estava no ônibus, indo para a faculdade com poucas possibilidades à mão, sem querer muito conversar com uma menina do meu lado, de franja rosa – e eu aposto que ela gosta de pelo menos duas dúzias de bandas que começam com “the”, igualzinha a mim. Acho que ela não iria se importar se eu tocasse sua coxa, num movimento bem sacana; e eu iria deixar os óculos escuros escorregarem até o meio do nariz e voltar os olhos a ela e não dizer absolutamente nada e nesse momento quase radiante, quando ela, sentindo um acréscimo de estima por ela mesma e um tilintar especial correndo sua espinha e ficar entre o escândalo e a permissividade, talvez me dissesse um sim sem nenhuma palavra ou segurasse minha mão e colocasse seu classificador repleto de anotações sobre a biologia marinha por cima de tudo, para nos esconder e aí me mostrasse onde realmente começava o seu oceano particular: entre sua calcinha e suas coxas, entre os seus pêlos pubianos e o acento tão desgraçado do ônibus.(...)"
Eu também gostei muito do resto deste conto, mas se você quiser ler, vai ter que ir lá no Brutti, Sporchi e Cativi, onde o Ernesto escreve toda quarta-feira.

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12 de mar. de 2007

O umbigo de Ernesto Diniz

Como ele mesmo diz:
Ernesto Diniz, 28 anos, soteropolitano, possui memória seletiva sem critério, escreve em blogs desde 2000. Vive uma espécie de síndrome do não-pertencimento misturando algo entre Caio Fernando Abreu e Walt Whitman (?). Descobriu cedo os efeitos nocivos da kriptonita para o trabalho árduo de salvar o mundo, mas obteve redenção após ingressar em uma universidade federal e fazer carreira de estudante (a qual, afirma ele, é finita e encontra-se em franca decadência). Vive prometendo que morará fora, numa cruzada em busca da Pasárgada perdida (muito embora não conheça nenhum rei, nem súditos, dada sua anti-sociabilidade branda). É pesquisador em Tradução Intersemiótica e fala de Shakespeare como quem fala das novas tendências da música indie-pós-punk-neo-electro-rock-tropicália (aforismos somente no chuveiro). Ama as árvores, sândalo, avelã, cultura celta e ainda firmará morada no País de Gales.


Ernesto é um daqueles artistas geniais que zanzam pela rede, sendo vez por outra descobertos meio por acaso por nós (sempre com a sensação de que poderíamos tê-los descoberto antes se fôssemos menos preguiçosos). Sua prosa é direta, honesta, densa e meio claustrofóbica sem abrir mão do bom humor negro como guimba de cigarro.

Não sei ao certo porquê, mas recebia quase toda semana emails que me convidavam a ler o trabalho do cara nos sites e blogs onde ele publicava. Não me lembro como o cara me achou. Sei ainda menos porquê não fui lê-lo antes, mesmo com todo o meu discurso de se dar atenção ao pessoal que se auto-publica. Talvez tenha sido pura preguiça e uma eventual descrença de que coisas tão boas podem estar assim, se oferecendo em nossos emails. Tolo eu. Muito tolo...

Só de ler um pouco de seu trabalho, já sei que vai virar mais um de meus blogueiros de cabeceira. Seu "Resumo da Criação do Mundo", uma bem humorada metáfora vagamente apoiada no Gênesis bíblico para o renascimento que é o despertar depois de uma noite de seguidas coisas loucas, é simplesmente delicioso. O renascimento depois da ressaca e da semi-amnésia alcoólica como uma metáfora para... para o quê? Para o que for, para tudo ou para nada, sei lá... Não é necessário se elaborar sobre as metáforas do texto. É coisa que quem conhece, sabe como é. E Ernesto conhece, pelo visto. Conhece tão bem, que sabe enxergar a piada e a profunda dimensão existencial por trás de manhãs como estas. Mais do que isso, ele sabe muito bem que não adianta tomar banho... a nossa vida tá grudada na pele.

Longa e boa vida ao cara e sua obra (e boa sorte em seu sonho de ir parar no País de Gales)...

O novo blog do Ernesto, "O botão mais difícil de abotoar", fica logo aqui.

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