22 de mar. de 2007

Seaside, de Ernesto Diniz

Saindo um pouco do Mundo Encantado para admirar a prosa burlesca, adorável e quase ludicamente sacana, de Ernesto Diniz.
"Eu queria acreditar que pegar um ônibus até a faculdade me levaria a um mar de possibilidades, mas não é bem assim que me sinto num calor beirando os quarenta graus; talvez alguém dentro daquele mesmo ônibus, tão caloroso e nada positivo sentisse diferente; talvez essa pessoa fosse para o aeroporto: aí então haveria um mar de possibilidades; mas eu estava no ônibus, indo para a faculdade com poucas possibilidades à mão, sem querer muito conversar com uma menina do meu lado, de franja rosa – e eu aposto que ela gosta de pelo menos duas dúzias de bandas que começam com “the”, igualzinha a mim. Acho que ela não iria se importar se eu tocasse sua coxa, num movimento bem sacana; e eu iria deixar os óculos escuros escorregarem até o meio do nariz e voltar os olhos a ela e não dizer absolutamente nada e nesse momento quase radiante, quando ela, sentindo um acréscimo de estima por ela mesma e um tilintar especial correndo sua espinha e ficar entre o escândalo e a permissividade, talvez me dissesse um sim sem nenhuma palavra ou segurasse minha mão e colocasse seu classificador repleto de anotações sobre a biologia marinha por cima de tudo, para nos esconder e aí me mostrasse onde realmente começava o seu oceano particular: entre sua calcinha e suas coxas, entre os seus pêlos pubianos e o acento tão desgraçado do ônibus.(...)"
Eu também gostei muito do resto deste conto, mas se você quiser ler, vai ter que ir lá no Brutti, Sporchi e Cativi, onde o Ernesto escreve toda quarta-feira.

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