"Les chats"
Olho à minha volta procurando aquela gata. Não posso perder ela agora... Desde que a vi, gata perdida entre os blocos, eu a quis. Fico atento a cada movimento, cada sombra. Esse jogo de perseguição, tão antigo, é um tesão. Não posso perder ela agora! Desde que cruzamos nosso olhos nesta noite, eu soube que ela também não queria ser perdida por mim. Ela quer ser desejada, perseguida, alcançada e tomada. Eu vou achá-la! Ah, se não vou...
Corremos como bichos entre blocos. Ora eu a deixava ganhar distância, ora ela se escondia para que eu a achasse. Este é o nosso jogo. Eu a perdi depois daquela curva e... Não, ela está ali! Meus pêlos se eriçam quando vejo seu corpo longo e ágil correndo. Minhas pernas se esticam na corrida, minha vontade se alongando a cada passada. Cruzamos dois blocos, um estacionamento, um parque -- correndo, correndo, as coisas passam rápido por mim -- até que a alcanço. Sinto sua respiração cansada sob meu toque pesado, combinando com a minha. Nossas peles se encontram com força quando pulo -- vencedor -- sobre ela. Rolamos sobre a grama seca. Ela é minha gata eu sou o gato dela agora. Sobre a grama, entre os blocos, sob o céu e tudo mais, me coloco dentro dela. Alí roçamos e cheiramos, lambemos e gememos... e gememos... gememos.
Uma janela se abre sobre nós. Alguém grita um xingamento. Gente! Odeio gente! Uma pedra de gelo que é jogada em minhas costas e estraga tudo. Isso dói! Alguém joga cubos de gelo sobre nós e nos chama de gatos safados, grita que quer dormir... Corremos por instinto de sobrevivência, em busca de abrigo do perigo, para lados contrários. De meu esconderijo sob um carro posso ver o gelo derretendo sobre a grama que esquentamos. Posso ver a janela sendo fechada e alguém que ruma de volta para o sono entediado. Posso ver a noite se esgueirando sobre o para-choque do carro, mas não posso ver a minha gata. Nós nos perdemos, então, nesta noite...
Mas eu ainda vou achá-la! Ahh, se não vou!
Porra! Será que estes macacos não entendem o tesão?
Um contículo zooantropomórfico escrito na casa de um amigo nos idos de 2004, e publicado originalmente no Alriada Express em 20 de agosto de 2004.
Eu adoro gatos.
Marcadores: contos, escritos, gatos, psicozooantropomorfismo
4 Comments:
Vim aqui ler o resto! adorei, mas que os gatos com tesão fazem muito barulho... ah, isso é verdade! hehehe =)
bjos
Hey Mari. Que bom que você gostou.
É verdade que eles fazem bastante barulho com suas brincadeiras sensuais, bem o sei. Mas o mesmo também pode ser dito de muitos de nós.
Este contículo nasceu de um fato real, observado da janela da casa de um amigo em uma noite de 2004. Achei uma injustiça com os gatos, afinal, eles pareciam estar se divertindo tanto...
Abraços do Verde.
Lindo! Lindo!!
Caititi
Que bom que gostou, senhorita Tigik :)
Abraços do Verde.
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