28 de jan. de 2009

redescobrindo o caminho para mudar a história (pessoal)

Se tudo se trata de narrativas, deve haver uma forma de reinventá-las...
É claro que há...
O problema é descobrir como fazê-lo, principalmente nestes momentos em que a luz dentro da alma se apaga e tudo que queremos é não existir...

Vai ficar tudo bem... eu só não sei como, nem quando...

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Sacada

Deu mais um trago em seu cigarro, daqueles que o estavam matando, e olhou para as colinas cheias de casas.
- Eu podia morrer aqui - pensou.
E era isso mesmo que estava fazendo, pouco a pouco, onde quer que estivesse. Alguns dias acordava cheio de vontade de viver, mas a mesma lhe escorria por entre os dedos, assim como o tempo. E por mais que o tempo e a vida corressem, não conseguia mais sequer caminhar em frente.
Deu mais um trago no cigarro. Queria chorar, mas fazia tempo que não tinha lágrimas. Estava seco. Havia se tornado uma paisagem seca por trás de seus olhos. E alguma coisa gritava, aprisionada, lá dentro. Gostava de acreditar que era sua alma, e que se ela se libertasse tudo ficaria bem.
De um jeito ou de outro, tudo permanecia como estava, ao menos por hora. Deu o último trago no cigarro e voltou para dentro de casa. Aprendera a não se importar, e isso era o golpe de misericórdia em seu espírito.
Morria aos poucos em meio ao luxo e a inércia...

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Alguns fragmentos sobre Mitoreciclagem

Eu gosto de pensar em mitos como narrativas. Histórias que nos são contadas, histórias que contamos para os outros e para nós mesmos. Mas não é qualquer tipo de história. Trata-se de uma história poderosa, que carrega dentro de sí peças do quebra-cabeças de nossa visão de mundo e de realidade. As histórias que ouvimos e as histórias que contamos, e as histórias que vivemos, definem aquilo que temos por real e imaginário, certo e errado, bom e ruim. Somos todos seres míticos, mesmo que nem sempre estejamos conscientes disso.

Muitas pessoas costumam associar os mitos a um tipo de narrativa fantástica, que sabemos ser fantasiosa -- não real, e que é geralmente povoada por deuses e seres fantásticos. Estas histórias podem ser mitos, mas na maior parte dos casos elas não são os nossos mitos. Mas por confundir estas histórias fantásticas com mitos, acreditamos viver em uma época não-mítica -- e eu acredito que esta é uma idéia equivocada.

Mitos são histórias, sim. Histórias que podem ser sobre qualquer coisa, mas das quais derivamos nossas idéias e sentimentos sobre como o mundo é, como as coisas acontecem, o que é certo e errado, real ou imaginário. Na maior parte dos casos, nossos mitos não são mais sobre deuses e seres fantásticos, forças da natureza ou feitos sobrenaturais. Estes são, na maior parte dos casos, mitos de outros tempos e povos que absorvemos em nossos caldeirões de histórias, mas que não podem mais ser considerados os nossos mitos.

Nossos mitos são sobre pessoas e seus feitos. São histórias sobre empresas, governos, organizações, e sobretudo sobre pessoas que podem ou não ser pessoas como nós. São histórias sobre máquinas e estruturas abstradas, como as leis ou os estados, e nossas relações com elas. Nossos mitos são sobre pessoas que trabalham duro e acumulam muito dinheiro, sobre como as empresas e os governos são poderosos -- tem o poder de manufaturar produtos complexos e mandar direta e indiretamente em nossas vidas, mitos sobre pessoas corruptas que se dão bem, sobre como doenças estranhas podem surgir do nada e nos matar, mitos sobre como a classe social que nascemos define quem somos e o que podemos fazer. Nossos mitos são todas aquelas histórias que ouvimos e, acreditando completamente nelas ou não, absorvemos delas algo que vai fazer parte da dinâmica pintura maior que é a nossa visão do mundo.

Se em alguns povos os mitos vinham de sacerdores e xamãs, viajantes e contadores de histórias, os nossos mitos hoje chegam a nós por muitos meios diversos: desde as conversas com o amigo ou com a vizinha, passando pelas escolas que frequentamos, lugares onde trabalhamos, até chegar na imprensa, nas empresas cujos produtos consumimos e os governos que nos regem.

Quando o ministério da saúde exige que todas as embalagens de cigarros apresentem fotos que representam os males do cigarro associadas a dizeres sobre os efeitos nocivos dos mesmos, isso é uma forma de difusão mítica. Podemos desconsiderar estas fotos e dizeres, ou prestar atenção nelas, mas de um jeito ou de outro elas reforçam a idéia de que os cigarros causam doenças -- coisas que hoje são inquestionáveis, mas das quais muitas pessoas duvidavam a pouco tempo atrás, quando estas mesmas afirmações de valor mítico eram recusadas e desmentidas pelas empresas de cigarro, interessadas no consumo dos mesmos. Este pode não ser o melhor exemplo (foi o que me ocorreu agora) mas é uma amostra de como nos são contadas histórias que de um jeito ou de outro definem o que é real para nós.

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"...Tudo é narrativa. Aquilo que estamos vivendo neste exato momento é uma narrativa que vertemos sob nós mesmos. Aquilo que nossos sentidos captam, aquilo que interpretamos do que percebemos, se transforma em uma narrativa para nós mesmos quando nos dizemos 'estou vendo um computador, ele está ligado na minha conta de Gmail, estou lendo um email do Daniel Duende que fala sobre mitos, e ele fala o seguinte...'. Quando conversamos, isso também é uma narrativa de muitos níveis. Eu estou te narrando o que digo, ao passo que você narra para você mesmo o que ouviu do que eu disse. Ao mesmo tempo, você narra para mim aquilo que está sentindo, através de suas expressões faciais ou corporais, ou de eventais palavras de concordância ou discordância que você diga, e eu narro para mim mesmo aquilo que estou vendo você fazer e ouvindo você falar a respeito do que eu estou te dizendo. Ao mesmo tempo, quem nos escuta está narrando para si mesmo aquilo que seus sentindos estão captando, e na mesma medida contamos a nós mesmos sobre as reações daqueles que estão assistindo a conversa. Sob a mesma ótica, estou narrando para você aquilo que quero dizer com estas palavras, e você, narrando para si mesmo o que entendeu delas. Que tal me contar agora o que acha daquilo que eu disse?"

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Mortes e Renascimentos

De quantas mortes e renascimentos, tropeços e recomeços, enganos e descobertas, é feita uma vida? Não sei. Poucos voltaram para contar depois que a mesma chegou ao cabo, e a maioria estava mais preocupado em falar do pós-morte...

Mas por enquanto, é a vida que me interessa. Então a gente vai vivendo e descobrindo como faz.
Dizem por aí que sempre é tempo de começar de novo.

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