Acorda pra Sonhar - Fragmento
Por vezes sonho em escrever alguns contos que, por indisciplina ou preguiça ou qualquer outro motivo assim, acabo não escrevendo. Fico sempre com a sensação de que algum dia voltarei àquele conto e saberei o que dizer, saberei o que escrever. Por vezes tenho vontade de desistir, mas isso não faz a menor diferença. Penso em apagar o conto para não ter mais que pensar nele, mas isso também não faria a menor diferença. Então eu os deixo lá, esperando a possibilidade de que eu um dia acorde e saiba escrevê-lo de um jeito até melhor do que o comecei.
É assim com muitos de meus contos, principalmente com este que seria um de meus prediletos se eu um dia conseguisse terminá-lo. Seu nome é Acorda pra Sonhar.
Reproduzo abaixo a primeira parte do conto, revisada rápida e não invasivamente hoje. Não me lembro quando o comecei. Espero que um dia acorde e saiba como terminá-lo...
Um dia eu descubro como contar o que acontece depois. Prometo que conto pra vocês, quando souber...
É assim com muitos de meus contos, principalmente com este que seria um de meus prediletos se eu um dia conseguisse terminá-lo. Seu nome é Acorda pra Sonhar.
Reproduzo abaixo a primeira parte do conto, revisada rápida e não invasivamente hoje. Não me lembro quando o comecei. Espero que um dia acorde e saiba como terminá-lo...
(fragmento de Acorda pra Sonhar)
"Você acorda com o despertador, mas não está realmente acordado. De fato, você não esteve realmente acordado desde... desde que se lembra. Sentado na cama, um tanto relutante - você não quer ir para o trabalho - tenta se lembrar de seus sonhos. Não consegue lembrar-se nem sequer se sonhou. Lembra-se vagamente Dele, do Outro, e da forma como Ele olhava pra você, mas não sabe se O sonhou ou se só O imaginou. Todas as perguntas já desapareceram quando você começa a escovar os dentes, balançando-se para um lado e para o outro e morrendo de sono. Você não está realmente acordado, mas está de pé. Tem que se contentar com isso. Ao menos não vai perder a hora novamente. Se Ele estivesse alí, lembraria você de perguntar a si mesmo quem é você. Você provavelmente não saberia a resposta. Você não está acordado o bastante para isso.
Cambaleante, com a cabeça vazia e um bocado tonto, você começa a se vestir. Tenta se lembrar se bebeu ontem, ou se ficou acordado até muito tarde. Você quase sempre faz alguma das duas coisas. Passando o dia inteiro no trabalho você não tem muito tempo para dedicar a você mesmo. Não que você utilize muito bem o tempo que rouba do seu sono. Você não presta muita atenção na roupa que veste. Uma calça e uma camisa que você usou apenas uma vez nos últimos dias, as botas de sempre, um casaco para a chuva do fim do dia... Você tem que economizar roupas, pois a lavanderia está cara e você não é muito bom com o dinheiro. No caminho até o carro você fica ofuscado pelo sol e se lembra que esqueceu os seus óculos escuros. É uma forma levemente ruim de começar o dia.
Dirigir nem sempre é uma coisa prazeirosa para você. Você até queria gostar, mas por algum motivo acha tão enfadonho quanto qualquer outra coisa. Quando é dia as ruas estão cheias e todos os sinais da W3 parecem se fechar quando você se aproxima deles. É um saco. Quando está quente, fazendo aquele calor matinal das épocas de chuva no cerrado, e você está rodando rumo a outro dia entediante, dirigir é quase uma tortura. Por outro lado você gosta de dirigir à noite, quando as ruas estão vazias, quando você pode acelerar o carro e dirigir de um jeito menos automático. Geralmente você está bêbado, ou ao menos animado, nestas situações. Você geralmente se diverte mais quando está bêbado. Algo em você acorda nestas horas, e uma outra parte que não te faz muito feliz vai dormir. Mais um sinal fechado, e você não quer pensar em você mesmo. Está entediado, mortalmente entediado, e o dia está apenas começando.
Você desce do carro e tranca a porta. Você nunca tem saco de colocar o alarme. O dia está quente e você está muito longe de onde queria estar, embora você não saiba ao certo onde você queria estar. Um colega de trabalho acena pra você. Ele está descendo de seu carro também. Parece animado. Você acena de volta, consciente de que deve estar exibindo um sorriso amarelo beirando o marrom. Duas senhoras olham para você enquanto você caminha para a entrada do edifício. Olham como se você fosse um bocado esquisito, o que talvez você seja. Você as ignora, como ignora a maioria das pessoas. Nem sempre você sabe o que dizer a elas. Isso te deixa nervoso, pois as pessoas parecem esperar que você diga algo a elas. Na maior parte do tempo você apenas não está interessado no que elas tem a dizer também. Mesmo assim, ultimamente você não acha que tenha muito a dizer também.
Ás vezes você queria ser normal -- ser como os outros -- mas você não sabe ao certo o que isso quer dizer. Quando olha de verdade para a vida da maioria das pessoas que o cercam, você tem a impressão de que eles não são felizes. Parecem de fato viver vidas muito chatas. Veja aquele pessoal do escritório, e mesmo aqueles seus amigos lá do boteco. Eles se divertem ao modo deles, mas você não tem certeza de que se divertiria no lugar deles. Há algumas pessoas cuja vida e modo de ser você admira, mas é isso... você gosta que elas não sejam você, para que elas possam estar em sua vida. De qualquer modo você não iria querer viver a vida delas -- elas também parecem inadequadas para você -- não são o tipo de vida que poderia ser a sua vida. Então você se pergunta o que é ser normal, não encontra resposta, e acaba desistindo da idéia. É então que você se sente bem com a idéia de tentar ser você mesmo. Não que você saiba ao certo o que isso quer dizer também.
Sentado em sua mesa, você liga o seu computador e espera impacientemente pela inicialização do sistema. Todos à sua volta estão trabalhando. Alguns acenaram para você enquanto você chegava. Você acenou de volta, fingindo estar feliz. Geralmente as pessoas se contentam com isso. Olhando para a tela preta onde passam linhas e mais linhas de um computês impenetrável do qual você só entende uma ou outra coisa, você traça um paralelo entre aquilo e a sua vida. Você poderia entender muito mais do que entende, mas não tem saco para tentar entender, e então as coisas simplesmente passam. Mais uma vez você resolve não pensar nisso. Gostaria de saber para onde ir, ou o que fazer para ser feliz. Gostaria de perguntar para Ele, mas Ele deve ser apenas parte da sua imaginação. Algumas pessoas tem amigos imaginários. Eles aparecem, falam, contam histórias e segredos, e ouvem o que você tem a dizer. Você só tem uma pessoa imaginária que está em algum lugar que você nâo sabe ao certo qual é, que nunca aparece, nunca diz nada e apenas olha pra você enquanto você o imagina. Ao mesmo tempo Ele parece muito com você, e não se parece em quase nada. É como se Ele fosse alguém que você gostaria de ser, mas isso só parece possível no lugar onde Ele vive, e provavelmente este lugar também é parte da sua imaginação. Olhando para a tela do computador, você percebe que este já está pronto para o uso. Você não tem que pensar para descobrir que você não quer usá-lo, de qualquer forma. Então apenas checa o seu email e fica tentando se distrair na internet enquanto ninguém olha de modo estranho para você por isso.
Alguns emails te interessaram. Um ou outro de pessoas queridas, um ou dois dizendo coisas interessantes. Você os respode com um expontâneo ar de sábio enigmático e divertido. Nestes momentos você até gosta de você -- nos momentos em que está escrevendo algo -- mas o prazer é momentâneo e você volta a ficar entediado. Há alguma coisa faltando, sempre houve, em você ou sua vida. Por vezes você acha que Ele sabe a solução. Por vezes você acha que a solução não existe, e que a vida é assim mesmo. Em dias como este, você prefere nem notar que alguma coisa está faltando.
Ele deve estar rindo de mim em algum lugar, você pensa. Foda-se, pare de rir e venha aqui me tirar desta vida se é que você existe -- você diz entredentes. Nada acontece. A vida deve ser assim mesmo. Este é mais um dia ruim. Quem se importa? Ele? Você não se importa. Você gosta de acreditar que está tudo bem, quase tanto quanto gosta secretamente de acreditar Nele. Nenhuma das duas coisas te faz mais feliz. Mas o que mais você pode fazer, afinal?
Em dias como estes, você se sente como um náufrago. Não, pior do que isso! Em dias como estes você se sente ridículo por se sentir como um náufrago. É uma merda. Ou nem é tão ruim. Muitas coisas poderiam ser piores. Você se sente pior por isso.
No fundo, você só queria acordar deste sonho ruim. Mas o quê aconteceria se você acordasse?
Até o trabalho parece menos pior do que ficar preso nesta arapuca de pensamentos que não saem do lugar, então você decide trabalhar. Mesmo assim, uma voz lá no fundo continua ecoando na sua cabeça e dizendo que você só queria acordar..."
Um dia eu descubro como contar o que acontece depois. Prometo que conto pra vocês, quando souber...
Marcadores: acorda pra sonhar, contos, escritos, fragmentos, histórias encantadas, jay mcinerney, segunda pessoa
1 Comments:
Acorda para Sonhar.
De dentro do meu Encantado Jardim,
Eu vislumbro o amanhecer azul como
Um mar de luz entoando canções celtas...
O mar é de transbordamentos,
E me ocorre um pensamento bom
De que o outono está passando,
Tem menos folhas no chão,
E nas árvores a primavera a florir,
Diz-me, que de dentro do sonho
Talvez eu possa acordar e sentir,
Enfim, tudo fluir.
O meu Jardim Não perdeu o Encanto,
Porque o Encanto é presença etérea,
Vem o vento soprado pela boca do Tempo
E faz com que as marcas que causamos
Uns aos outros, virem, aos poucos,
Apenas uma invisível cicatriz.
O amor eu trago anelado dentro do meu coração,
E ele tem a medida de qualquer dedo,
É o anel do segredo azul da poesia...
Laís.
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