10 de jul. de 2007

cotidiano (com luz e achocolatado, e uma pitada de saudades) - fragmento

"Abriu a geladeira e pegou a caixa de leite. Tinha a cabeça um pouco cansada pelo trabalho. Apertou a caixa para tentar datar o líquido pelo olfato. É uma coisa temerária a se fazer, mas a cotidianeidade nos deixa inconcientes de nossa tolice. O leite não cheirava mal. Pegou o pote de Toddy e preparou-se um achocolatado. Bebeu. Suspirou tranquilo, com a cabeça quase vazia. Olhou pela janela. Sentiu saudades. Terminou de beber seu leite e foi para seu quarto.

Decidiu que não trabalharia mais hoje. Era uma noite fria e silenciosa. Deixara a janela aberta. Acendeu um cigarro e decidiu escrever. As palavras não vinham. Tinha vontade, tinha o que dizer -- a vida estava repleta de coisas fortes -- mas não tinha as palavras. Sentiu saudades. Levantou-se e foi até a varanda. Procurou a lua que não estava lá, e contemplou as colinas distantes que estavam. As luzes distantes da cidade se embaralhavam em sua vista cansada. Não. Não era cansaço. Seus óculos estavam sujos. Limpou-os na barra da camisa enquanto cruzava a sala fria. Colocou um casaco. Pensou em beber água. Foi à cozinha, lavou um copo, bebeu água, guardou coisas. Voltou para seu quarto para tentar escrever novamente. Sentiu saudades. Saudade do tipo bom, que é uma carícia na memória. Decidiu procurar seu celular. Queria ouvir uma certa voz, mesmo sem ter muito a dizer naquele momento. Nem sempre se precisa ter algo a dizer. Certas dimensões da dádiva são não verbais. Por vezes uma voz, uma presença, vale mais do que palavras. Geralmente é assim.

Procurou seu celular. Não o encontrou. Sentou-se novamente no computador, incomodado. Sabia que o encontraria eventualmente, mas o impedimento de realizar seu desejo tornara-o mais urgente. Tentou escrever. Sem palavras. Não tinha palavras para dizer. Só queria ouvir algumas, fossem quais fossem, só pelo prazer de ouví-las da pessoa certa. Respirou fundo, pensando onde poderia estar seu celular. Quando olhou para o lado e viu o pote de Toddy sobre a mesa do quarto, apercebeu-se de um fato ridículo. Foi até a cozinha -- rindo-se de si mesmo -- e abriu o armário de comidas. Lá estava o seu celular. Discou, ainda rindo, e ouviu a voz que queria ouvir. Conversaram, leves e alegres. As saudades novamente se tornaram uma carícia da memória, e agora ele tinha vontade e paz, e as palavras, para escrever.

Dito e feito."


Estava precisando escrever. Este foi o fragmento tampão.
Vamos ver o que mais vai jorrar nesta noite...

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2 Comments:

Blogger Dora nascimento said...

(...)Bom ter como amenizar saudades, não.
tomaram que elas te resgatem, sempre em palavras.

Bom te ler de novo.

7/19/2007 08:12:00 PM  
Blogger Daniel Duende said...

Sim... é muito bom ter como amenizar as saudades...

=]

fico feliz que gostes de ler o que escrevo. seja sempre bem vinda.

abraços do verde.

7/20/2007 04:43:00 PM  

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