15 de jun. de 2007

um trecho do conto "Porta dos fundos (do templo)"

"(...)Encontrei, finalmente, um garçom. Segurei ele pelo braço -- "me vê um lucky, meu velho" -- e me sentei de novo. A carolinha havia se sentado em outra mesa, com outras carolinhas com o mesmo jeito de cuzinho cheiroso. Todas elas estavam com camisas idênticas, umas pretas e outras brancas, e agora esmagavam seus Jesus -- seja lá qual for o plural do nome do cara -- nos encostos das cadeiras. Fiquei olhando um tempo, enquanto bebia minha cerveja. Quando você está entendiado, qualquer coisa é interessante. Quando o garçom chegou, entornei o resto da cerveja no copo e pedí mais uma. Quando o garçom saiu da frente, ví que minha carolinha tava me olhando. Acho que sorri, mas não deve ter sido um sorriso bonito.

Mas a merda é que ela não parecia estar olhando pra mim. Devia estar olhando para a minha camisa. Ah! Cacete! Que coincidência. Foi então que me toquei de que eu estava usando minha camisa roxa onde se lia "Jesus te ama, mas eu te acho um merda" -- uma surrada pérola dos tempos em que o Caceta e Planeta ainda era um grupo de humoristas. Era uma camisa legal, mas fodam-se eles.
A mina fez um olhar de reprovação para mim, balançou a cabeça, fez biquinho. Caralho, como alguém pode ser tão ridiculo e sedutor ao mesmo tempo? Fiquei com vontade dela, de vez. Dei de ombros pra ela, e fingi não dar muita atenção. Olhei à volta, pra dar uma sacada no movimento do bar. Não me distraía. Notei que meu humor tinha melhorado. Levantei um brinde para a pilastra e virei o copo. Ao longo das próximas duas cervejas, a carolinha deu um jeito de passar pela minha mesa duas vezes. Deixado de lado o Jesus, ela parecia ter um cuzinho muito gostoso por baixo daquela calça jeans.(...)"


Porta dos fundos (do templo) é um dos novos contos em que estou trabalhando. É diferente dos outros, embora tenha suas semelhanças. É meio tosco, mas vejo nele também alguma doçura. Causa primeiras e segundas impressões; faz mais sentido conforme você vai olhando para ele. Não pede licença nem perdão, apenas é como é.

É um conto humano, ponto.

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5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

acho que nunca fui tão boca suja qto na época que tava lendo 'misto-quente'.

engraçado,qdo te conheci n me assustava com seus contos 'meio toscos'. hoje me assusto. o.o
ainda não consegui sacar bem o porquê dessa mudança.

6/15/2007 06:20:00 PM  
Blogger Unknown said...

Adorei o conto cara, se me permite citarei no blog, gosto muito dessas novidades literárias que encontro em um blog ou outro, é a diversidade cultural mostrando sua cara no Brasil..

=)

6/26/2007 09:15:00 AM  
Blogger Unknown said...

a proposito
se quiser ver a citação

http://www.abreparenteses.com.br

6/26/2007 09:15:00 AM  
Blogger Daniel Duende said...

Hey, Anônima! :)
Bukowski tem mesmo uma influência sobre a gente, não é mesmo? Mas este conto foi um experimento de escrever algo diferente, me libertar de hábitos e falar de "outras coisas, outras pessoas, outros eus". Foi bacana. Quando o terminar, publico imediatamente. Gosto um bocado dele. :)

6/26/2007 02:14:00 PM  
Blogger Daniel Duende said...

Valeu pela citação, Viktor!

Já passei por lá e deixei meus comentários, e assim que tiver um tempinho vou adicionar seu blogue ao meu blogroll. Por hora, vou adicioná-lo aos meus "technorati faves" (o que é bem rapidinho de se fazer).

Acho bacana, e muito importante, este intercâmbio entre os "blogueiros-escritores". É uma pena que esteja tão acumulado de trabalho a ponto de não poder mergulhar mais neste intercâmbio por hora. Mas a vida dá suas voltas, e terei mais tempo em breve.

Abraços do Verde.

6/26/2007 02:17:00 PM  

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