31 de jul. de 2007

mais um fragmento de um velho conto...

Um convite para "fornecer" um conto brasiliense para servir de base para um roteiro de um curta amador me fez revirar minhas gavetas virtuais. Embora a minha interlocutora já estivesse inclinada a levar a "mercadoria fácil" do "Melhores Venenos", ainda insistí em regatear sobre alguns velhos contos.

No meio da revirada de gavetas para buscar mais opções, encontrei meu velho, brega e meio surreal "Princesa à Janela" (que, sim, tem o nome MUITO parecido com o "A Moça Acenando na Janela", a ponto de eu misturar os nomes por vezes, mas que pertence a outra época, sendo um dos contos mais velhos do primeiro projeto de livro).

Abaixo, um trecho da velharia doce que nem mel:

"Acompanhando com os olhos o pequeno ponto de luz do toco de cigarro que cai, Lorena tenta se abstrair do escuro de seu quarto e do vazio que sempre sentiu. A vida nunca foi difícil para ela, mas isto não a fez melhor. O pequeno vagalume laranja se choca com o asfalto lá embaixo, reproduzindo-se em muitos outros pontos de luz que morrem juntos.

Em meio às sombras da quadra parada dois olhos se voltam para cima. Lorena, perdida em um suspiro por mais uma noite perdida, encontra outros olhos perdidos na solidão da noite. Por alguns segundos não há muito mais o que se fazer senão olhar. O homem na calçada e a menina à janela, duas solidões sem par. As cinzas do cigarro na calçada soltam sua última linha de fumaça, o homem volta a olhar para frente e caminhar. Lorena fecha a janela para dormir. Os dois continuam sozinhos."

Gosto deste trecho. Pena que nem todo o conto é bacana deste jeito. Quem sabe um dia eu o tire da gaveta -- quem sabe até agora -- para torná-lo algo publicável?

A vida é cheia de surpresas. Nem mesmo eu sei de tudo que vou decidir fazer...

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